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Campo Grande,26/08/2025

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“Carandiru” epicentro do crime, símbolo do abandono público, segue blindado

Enquanto pune pequenos comerciantes por ‘gato de energia’, concessionária ignora o maior foco de ligações clandestinas e criminalidade da Capital


“Carandiru” epicentro do crime, símbolo do abandono público, segue blindado “Carandiru” epicentro do crime, símbolo do abandono público, segue blindado

E nesse contraste, salta aos olhos a atuação seletiva da Energisa: a concessionária que recentemente deflagrou operação e prendeu comerciantes acusados de furto de energia, divulgando amplamente o caso e cobrando prejuízo de mais de R$ 90 mil, mantém silêncio diante das ligações clandestinas de luz que alimentam o “Carandiru”. O mesmo rigor aplicado contra pequenos empresários desaparece quando se trata do maior foco de irregularidade elétrica e criminalidade consolidada da Capital.

Localizado no bairro Mata do Jacinto, o condomínio invadido conhecido como “Carandiru” tornou-se um ponto de convergência de criminalidades que afetam diretamente uma população estimada em 39.202 habitantes — distribuídos entre Mata do Jacinto (9.707), Margarida (5.939), Carandá (10.391) e Novos Estados (13.165).

Erguido como Residencial Atenas, o prédio teve suas obras paralisadas há mais de duas décadas e acabou invadido por dezenas de famílias. Desde então, o “Carandiru” vem abrigando situações alarmantes: tráfico de drogas, receptação, furtos, armas ilegais e até homicídios, conforme apontado pela Polícia Civil durante a Operação “Abre-te Sésamo” em junho de 2023. Na ocasião, mais de 320 agentes, apoio aéreo, Bombeiros, Defesa Civil e órgãos de assistência social participaram da ação. O local foi classificado como “fábrica de crimes” por autoridades e interditado pelo Corpo de Bombeiros por ausência de condições mínimas de segurança contra incêndio.

     

Moradores improvisaram instalações: dezenas de fios “gato” se entrelaçam pelo prédio, garantindo energia elétrica clandestina. As ligações de água seguem a mesma lógica. A ocupação irregular persiste, com modificações estruturais internas em desacordo com normas de segurança. Os riscos de incêndio, curto-circuito e desabamento são permanentes. Para agravar ainda mais o cenário, no interior do Carandiru foi instalado um estabelecimento comercial que funciona como bar e mercearia, onde são vendidas bebidas alcoólicas e produtos de procedência duvidosa, muitos deles possivelmente recebidos de usuários de drogas em troca de entorpecentes. No mesmo espaço, uma mesa de sinuca completa o ambiente, transformando o local em ponto de convivência à margem da lei. O quadro se torna ainda mais perturbador quando se percebe a presença de crianças que perambulam por entre garrafas de álcool, cigarros, drogas e o convívio com usuários, crescendo em um ambiente que naturaliza a violência, a dependência química e a degradação humana.

Além do tráfico e armazenamento de produtos ilícitos, moradores e comerciantes relatam furtos constantes — especialmente de fios de cobre — e incêndios em terrenos para extração desses materiais. Dependentes químicos importunam clientes em mercados e padarias, recolhendo alimentos que depois são trocados por drogas dentro do condomínio. O medo, a violência e a desvalorização imobiliária se espalham pelos bairros vizinhos.

Apesar das reiteradas operações policiais, que chegaram a mobilizar mais de 300 agentes em uma única ação, o problema permanece. Autoridades de segurança classificaram o local como uma “fábrica de crimes”. Contudo, o poder público municipal, na figura da prefeita de Campo Grande, não adotou providências estruturais efetivas. A interdição da Defesa Civil foi ignorada, a retirada dos invasores nunca ocorreu, e a região permanece sob risco de tragédia humana e criminalidade crescente. Diante dessa omissão, moradores e comerciantes da região, cansados de esperar por providências, se organizaram de forma pacífica e dentro dos limites da lei, criando o grupo “Guardiões do Prosa”, que hoje já reúne mais de mil integrantes. Unidos pela dor de conviver diariamente com furtos, ameaças e a sombra do tráfico, eles transformaram o medo em vigilância comunitária. O grupo compartilha informações relevantes para auxiliar as forças policiais na identificação de criminosos, organiza estratégias de autoproteção e busca preservar o que resta de dignidade em um bairro marcado pela insegurança. A existência dos Guardiões do Prosa simboliza tanto a força da comunidade quanto a falência das ações governamentais: cidadãos comuns que, à revelia do poder público, assumem a linha de frente na defesa de suas próprias vidas.

Enquanto o Carandiru se mantém ativo como base da criminalidade, os bairros ao redor vivem os reflexos. Comerciantes relatam que dependentes químicos e moradores do Carandiru importunam clientes, pedindo comida e dinheiro. Alimentos básicos, como arroz e feijão, são recolhidos em mercados e padarias para depois serem trocados por drogas dentro do condomínio. Moradores denunciam furtos frequentes e uma sensação constante de insegurança. “Mesmo depois de grandes operações, os usuários continuam aqui. Eles ficam nas portas dos comércios pedindo comida, pedindo dinheiro, e muitas vezes ameaçam os clientes”, relata um comerciante da região.

A permanência da ocupação irregular — respaldada por decisões judiciais e pela intervenção da Defensoria Pública — mantém o ciclo de vulnerabilidade social e criminalidade. De um lado, operações policiais apreendem drogas, armas e produtos de furtos. Do outro, a ausência de medidas concretas por parte do Executivo municipal e a judicialização do caso permitem que o problema se perpetue. Enquanto isso, comerciantes e moradores seguem arcando com os prejuízos: convivem diariamente com furtos, abordagens agressivas e a desvalorização da região.

O condomínio invadido conhecido como “Carandiru”, nas imediações do Mata do Jacinto, desponta como o principal foco de criminalidade na região do Prosa: um palco onde desigualdade social, precariedade habitacional e abandono institucional se misturam a atividades criminosas. A ausência de moradia digna e acesso a serviços básicos alimenta esse ciclo de vulnerabilidade, enquanto as ações pontuais de segurança pública, embora necessárias, não substituem políticas estruturais de habitação e assistência social.

Sem uma intervenção humana, integradora e de médio a longo prazo — unindo segurança, habitação, assistência social e justiça — o “Carandiru” seguirá sendo alimentado pelo próprio contexto de marginalidade onde está inserido. Mais que um problema de segurança, trata-se de uma bomba-relógio urbana, que ameaça tanto os moradores internos, condenados a viver sob risco de desabamento, quanto os bairros vizinhos, reféns de um ciclo de abandono e violência.





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