Não era amor, era cilada: a polícia desmascara a violência no Dia dos Namorados
Enquanto muitos celebravam com flores, a Deam impôs tornozeleiras e prisões a suspeitos de violência doméstica em operação que escancarou a face cruel do falso romantismo

Enquanto corações apaixonados se derretiam em jantares românticos regados a vinho e flores, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul mostrava que, infelizmente, nem tudo que reluz é amor. A Operação Cilada, deflagrada nesta quarta-feira (12) pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), botou os pés no chão e o dedo na ferida: amor que machuca tem outro nome — crime.
Sessenta suspeitos de violência doméstica amanheceram com um presente nada romântico: tornozeleira eletrônica no tornozelo. Onze deles, inclusive, tiveram que ser levados à força para a instalação do equipamento. Outros seis receberam um convite mais firme: prisão preventiva. No total, 67 medidas judiciais foram cumpridas — uma ofensiva firme da polícia contra um mal que cresce às sombras da sociedade.
A delegada Analu Ferraz foi cirúrgica: “Aquilo que parece zelo ou ciúme pode ser abuso. Não é amor, é cilada”. Simples, direto e sem romantização. A escolha da data, Dia dos Namorados, foi proposital. Afinal, em um país onde mulheres ainda morrem pelas mãos de quem diz amá-las, a data precisa mais de alerta do que de buquês.
A delegada Fernanda Piovano reforça: o silêncio mata. E não é força de expressão. A Deam recebe entre 800 e 900 denúncias por mês, muitas delas ignoradas por familiares, vizinhos ou até pelas próprias vítimas, presas em relacionamentos baseados no medo. A tornozeleira, que parece pouco para quem assiste de fora, muitas vezes é a única muralha entre uma mulher e a tragédia do feminicídio.
A Operação Cilada mobilizou cerca de 30 agentes da própria especializada. Não foi só um cumprimento de ordens, foi uma resposta social. O delegado Leandro Santiago, recém-chegado à Deam, frisou: “Foi um esforço de dentro pra fora. O recado é claro: a lei está de olho e pronta pra agir.”
E que se diga: a média de idade dos agressores está entre 35 e 40 anos — ou seja, não são garotos imaturos, são homens formados e conscientes. A violência, infelizmente, vem travestida de normalidade e rotina. E, muitas vezes, a pior ferida não está no rosto, mas na alma — a agressão psicológica é silenciosa e destrutiva.
Neste Dia dos Namorados, enquanto alguns escolhem o amor, o Estado — felizmente — escolheu a justiça.
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