Sem concorrência, com apoio quase unânime, Samir Xaud será eleito presidente da CBF neste domingo
CBF sela novo ciclo em meio a crise institucional e ampla maioria federativa. FFMS e clubes silenciam diante da hegemonia dos cartolas regionais

Num roteiro já escrito com meses de antecedência, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) realiza neste domingo (25), na sede da entidade no Rio de Janeiro, uma eleição que já tem resultado certo: o médico infectologista roraimense Samir Xaud, de 41 anos, será o novo presidente da CBF para o mandato de 2025 a 2029.
Com apenas uma chapa registrada, o pleito se tornou mera formalidade — e não por acaso. Samir Xaud, atual presidente da Federação Roraimense de Futebol, entrou no jogo como o nome do consenso federativo e contou com o endosso de 25 das 27 federações estaduais. A matemática dispensa suspense: com o peso triplo dos votos das federações, nem seria necessário o apoio dos clubes — que, mais uma vez, entram mudos e saem calados.
Entre os apoiadores declarados, está Estevão Petrallás, presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS), que se apressou em dizer que apoia a chapa "de forma consensual". A frase é sintomática: o consenso, nesse caso, foi construído no silêncio e na ausência de alternativas, e não por um debate democrático.
Clube vota, mas quem manda são as federações
A eleição será presencial, com voto eletrônico, mas a estrutura do colégio eleitoral escancara o desnível de forças:
27 federações estaduais, cada uma com voto de peso 3
20 clubes da Série A, com votos de peso 2
20 clubes da Série B, com votos de peso 1
Ou seja, apenas as federações — todas dependentes financeira e politicamente da CBF — concentram 81 votos, o que representa mais da metade do total possível (total de 141 votos). Basta o apoio de 23 delas para garantir a eleição. Samir já tem 25. É um jogo de cartas marcadas.
Não à toa, clubes que deveriam ser protagonistas do futebol nacional há anos reclamam do seu papel decorativo no pleito. Mas pouco ou nada fazem para mudar esse cenário.
Assembleia elimina Ednaldo e reescreve o passado
Antes mesmo da eleição, a Assembleia Geral Extraordinária deste domingo tratou de apagar o passado recente da entidade. Foram anuladas as duas últimas eleições que elegeram Ednaldo Rodrigues e revogadas todas as alterações estatutárias promovidas durante sua gestão. A principal delas: a permissão para duas reeleições. Volta a valer a regra de apenas uma reeleição — um detalhe simbólico num cenário onde acordos de bastidor valem mais que estatutos.
Ednaldo, aliás, já havia retirado seu recurso no STF para tentar voltar ao cargo. Sai de cena sem deixar saudades, mas com o alerta ligado: o sistema segue o mesmo.
Quem é Samir Xaud?
Filho de Zeca Xaud, que por décadas comandou a Federação Roraimense, Samir chega à presidência da CBF sem trajetória conhecida no futebol nacional, mas com o selo da velha guarda federativa. Médico, especialista em saúde e esporte, Samir é o novo rosto de uma velha engrenagem. Pouco conhecido do público, mas muito bem relacionado nos bastidores.
Sua eleição não é apenas uma vitória pessoal, mas a consagração de um modelo centralizado, onde as federações decidem, os clubes obedecem e o torcedor... assiste.
Os vices: a nova diretoria da CBF
A chapa encabeçada por Samir traz oito vice-presidentes, entre eles nomes com histórico no futebol, no judiciário esportivo e no comando de federações:
Ednailson Rozenha (Federação Amazonense)
Fernando Sarney (interventor da CBF e ex-FIFA)
Flávio Zveiter (ex-STJD)
Gustavo Henrique (ex-diretor da CBF)
José Vanildo, Michelle Ramalho, Ricardo Cluck Paul, e Rubens Angelotti — todos presidentes de federações estaduais.
Uma composição feita sob medida para manter as bases federativas satisfeitas — e, claro, alinhadas.
O que vem aí?
Com o apoio quase unânime das federações, Samir Xaud assume a CBF em um momento em que a entidade clama por estabilidade. Sua missão, porém, vai muito além de manter aliados satisfeitos: o novo presidente precisará provar que sabe gerir um futebol em crise de credibilidade, carente de transparência, resultados e modernização.
Se a eleição foi fácil, o mandato — ao menos no campo das expectativas — promete ser tudo, menos tranquilo.
*Com informações capitalnews
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