Que país é este, onde o crime compensa — mas só um pouquinho?
Sete juízes reconheceram a compra de votos, mas decidiram que o crime não foi grave o bastante para mudar o resultado. Em que tipo de República isso é considerado Justiça?

Há uma música que insiste em ecoar na mente dos brasileiros atentos. Ela pergunta, com um grito entalado na garganta: “Que país é este?” E a cada dia, a resposta parece mais difícil de engolir.
Recentemente, uma decisão tomada por sete juízes reacendeu esse incômodo. Todos reconheceram que houve compra de votos. Sete. Não foi uma suspeita. Não foi um talvez. Foi compra de votos comprovada. A fraude existiu, está registrada, foi julgada — e pasmem: foi perdoada.
Segundo os magistrados, o crime ocorreu, mas não teve força para alterar o resultado. É como dizer que o veneno estava na comida, mas foi colocado em pequena dose, só pra dar um sabor.
O crime aconteceu, mas não vale punição. O voto foi comprado, mas “não influenciou o suficiente”. Ora, o que é “suficiente”? Quem mede o impacto da corrupção no coração da democracia? Desde quando roubar um pouco é aceitável, se o resultado final agrada?
Isso não é Justiça. Isso é relativismo jurídico travestido de imparcialidade. Uma terra onde o certo e o errado dependem do tamanho do escândalo — ou da conveniência política do momento.
A mesma letra que nos questionava sobre as favelas e o Senado, agora poderia incluir os plenários dos tribunais. Sim, há sujeira pra todo lado — até mesmo onde deveria haver limpeza, imparcialidade e coragem.
Em um país onde o ilícito é reconhecido, mas o sistema fecha os olhos em nome da “estabilidade”, não é difícil entender por que a confiança nas instituições derrete. O brasileiro já se acostumou com a corrupção, mas agora estão querendo nos acostumar com a impunidade legitimada.
A democracia é um edifício frágil. Não se sustenta com decisões que acomodam o crime em nome da governabilidade. Quando se normaliza a trapaça, o resultado não é paz — é cinismo.
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