Premiada com Ingratidão: A saga de uma servidora que ousou trabalhar demais
Prometeram valorização e respeito, mas entregaram perseguição, perda salarial e silenciamento — o retrato de uma Campo Grande onde servidor concursado virou alvo e bajulador, autoridade

Em tempos de promessas de valorização, respeito e "nova gestão humanizada", a realidade para os servidores efetivos da Prefeitura de Campo Grande parece mais com um episódio mal escrito de novela mexicana — com a diferença de que aqui não há final feliz, nem vilão que paga pelos abusos.
Nossa personagem é uma assistente administrativa II, servidora efetiva, concursada, que dedicou anos à máquina pública com competência, lealdade e vontade de crescer. Um pecado capital nos corredores da atual gestão, onde mérito é punido e puxação de saco é premiada com cargos comissionados e gratificações gordas.
Ela iniciou atuando no RH de uma Secretaria, sendo convidada, posteriormente, para assumir um setor em outra Secretaria. Até aí, tudo bem, até que… o diretor caiu. E com ele, caiu também a máscara da tal "valorização do servidor". O novo gestor deu tapinha nas costas e disse "fica tranquila". Segunda-feira: tchau e bênção. Foi remanejada sem explicações. Troca-troca de setor virou rotina: foi mudada para outra Secretaria, passando por diversos setores, tudo com o mínimo de instrução e o máximo de pressão. Pediu treinamento? Foi considerada "inconveniente". Resultado? Foi colocada à disposição durante o período de férias. Ao buscar informações de onde iria trabalhar, foi informada que “poderia aguardar em casa”. Só precisaria comparecer uma vez por dia ao RH para “assinar o ponto”. Por fim, foi remanejada para uma OUTRA Secretaria, definitivamente (até agora).
A servidora pediu para trabalhar perto de casa — pedido atendido. Aleluia. Mas aí veio o plot twist favorito da burocracia municipal: apostilamento com data errada. Ela trabalha desde o dia 1º de março. No papel, consta dia 1º de abril. Um mês de trabalho sumiu. E com ele, parte do salário, do auxílio alimentação do mês, da dignidade. A desculpa? "A folha está fechada". “Não dá para pagar retroativo.” “O sistema não permite.” “Culpa do e-Social.” É o sistema, sempre ele. A personificação da covardia institucional. Lembrando que o sistema é operado por pessoas, podendo sim, ter seus dados alterados, se necessário.
Ela pergunta o que fez de errado. A resposta, em silêncio, é ensurdecedora: trabalhou demais, confiou demais e não puxou saco de ninguém.
Hoje, com filhos pequenos, que dependem exclusivamente da mãe, essa servidora não tem mais função gratificada, não tem mais estabilidade emocional, e recebe uma miserável esmola salarial, como ela mesma diz. E se reclamar? "Cuidado, senão te jogam num buraco." Esse é o clima. Esse é o medo. Essa é a Campo Grande de 2025.
Sarcasmo ou tragédia?
Vamos falar sério: quando um servidor é perseguido, punido e empurrado de setor em setor como se fosse um pacote, não estamos mais diante de má gestão, mas de assédio institucional disfarçado de reestruturação administrativa. O e-Social virou a nova desculpa para tudo que não se quer resolver. Transparência? Só no discurso. Valorização? Só na propaganda.
Essa matéria não é só um desabafo — é um retrato cruel do que vivem centenas de servidores efetivos, que estão sendo engolidos pela máquina da indiferença. E o pior: com medo de falar. Porque se falam, são “remanejados”. Porque se pensam, são “desnecessários”.
Enquanto isso, os que “servem à gestão”, mesmo sem concurso, continuam confortáveis em seus cargos comissionados — com salário cheio, gratificação garantida e imunidade à competência.
Se essa é a nova forma de governar, talvez seja hora de reformar não os prédios públicos, mas a consciência de quem manda.
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